O meu filho tem doença celíaca, o que fazer?

O meu filho tem doença celíaca, o que fazer?

A doença celíaca (DC) é uma doença auto-imune que afeta o intestino delgado em indivíduos geneticamente suscetíveis. Em crianças, os sintomas apresentados na DC são muito variáveis ​​e influenciados pela idade.

Esta doença caracteriza-se por uma inflamação na mucosa intestinal, que quando não revertida diminui a absorção de nutrientes. Atualmente, a dor abdominal é um dos sintomas mais comuns. No entanto, em crianças mais novas, os sintomas de má absorção (como a perda de peso) são observados com frequência.

Sendo a adoção de uma dieta isenta de glúten (DIG) o único tratamento disponível para a doença celíaca, a eliminação do glúten da dieta da criança deve acontecer o quanto antes após o diagnóstico da doença. A DIG consiste na eliminação de cereais como trigo, cevada, centeio, aveia, trigo, triticale e kamut da alimentação, bem como de todos os produtos derivados.

 

Grãos, farinhas e amidos SEM glúten:

Amaranto

Araruta

Farinhas de leguminosas (grão-de-bico, feijão, fava, ervilha)

Trigo-sarraceno

Milho (amido de milho, farelo de milho)

Sementes de linhaça

Millet

Farinhas de frutos oleaginosos (avelã, amêndoa, noz)

Fécula de batata, amido de batata

Quinoa

Arroz

Farinha de soja

Tapioca

Teff

 

Grãos, farinhas e amidos COM glúten:

Cevada

Centeio

Aveia

Cuscuz

Trigo (farelo de trigo, gérmen de trigo, amido de trigo)

Kamut

Durum

Einkorn

Graham

Seitan

Semolina

Espelta

Triticale



No hipermercado:

A leitura de rótulos assume um papel fundamental, dado que é a única forma de garantir que os produtos alimentares embalados que compra não têm glúten na sua composição.

Sendo também um alergénio alimentar, o glúten, ou qualquer ingrediente que contenha glúten, tem de aparecer na lista de ingredientes de forma destacada (ex: maiúsculas, a negrito, sublinhado) – o que facilita a evicção destes alimentos no caso de DC.

Apesar de existirem muitas opções de alimentos sem glúten, estes contêm muitas vezes quantidades elevadas de açúcares e gordura. Se comprar alimentos sem glúten, prefira os alimentos mais simples como massas, pão ou tostas. Não se esqueça que alimentos como bolos ou bolachas devem sempre ser consumidos com moderação.

Em casa:

Crie o hábito de preparar primeiro os alimentos sem glúten – assim garante que não existe contaminação.

Utilize diferentes acessórios de cozinha para alimentos com e sem glúten.

Mantenha os alimentos com glúten separados dos alimentos sem glúten – ajuda a evitar enganos e a prevenir contaminações cruzadas.

 

Fora de casa:

Após o diagnóstico, a escola e familiares mais próximos devem ser alertados, para que a dieta seja cumprida e compreendida sem constringir a criança.

Num restaurante ou outro local semelhante, dê preferência a alimentos conhecidos e seguros. Na dúvida, não consumir.

Estudos recentes têm mostrado que não existem diferenças significativas entre crianças com e sem DC, no que respeita a marcadores gerais de saúde.

Reconhecida a importância da microbiota intestinal (conjunto de microrganismos que habitam no intestino) na saúde em geral, e sabendo que ela é muito influenciada pela dieta, é importante garantir que, mesmo com uma DIG, a microbiota intestinal se mantem equilibrada. Neste sentido, fará sentido a administração de probióticos (microrganismos benéficos), juntamente com uma DIG, já que esta conjugação pode aproximar a microbiota das crianças celíacas à de crianças não celíacas, restabelecendo uma microbiota característica da condição fisiológica típica.

 

Tenha paciência e dê-se tempo a si e aos outros para se adaptarem! No início pode parecer muito difícil porque tudo é novo mas, lembre-se: carne, peixe, ovos, lacticínios (sem adição de cereais), fruta, frutos secos, vegetais, arroz, batata e leguminosas não têm que ser retirados da dieta, pode e deve recorrer a estes sempre.

Quanto aos cereais, será uma questão de tempo até ganhar confiança e tudo parecer mais simples. E não hesite em procurar ajuda junto de um nutricionista e/ou junto da Associação Portuguesa de Celíacos.



Referências bibliográficas:

Diamanti A, Capriati T, Basso MS, Panetta F, Di Ciommo Laurora VM, Bellucci F, Cristofori F, Francavilla R. Celiac disease and overweight in children: an update. Nutrients. 2014 Jan 2;6(1):207-20. doi: 10.3390/nu6010207. PMID: 24451308; PMCID: PMC3916856.

Ana Duarte, Ana Pimenta Martins, Delphine Dias, Lígia Ferreira, Sónia Xará, Alimentação na Doença Celíaca. Colecção E-books APN: Nº 34, de 2014

Riznik, Petra; De Leo, Luigina†; Dolinsek, Jasmina‡; Gyimesi, Judit§; Klemenak, Martina; Koletzko, Berthold||,¶; Koletzko, Sibylle¶,#; Korponay-Szabó, Ilma Rita§,∗∗; Krencnik, Tomaz; Not, Tarcisio†; Palcevski, Goran††; Sblattero, Daniele‡‡; Werkstetter, Katharina Julia¶; Dolinsek, Jernej,§§ Clinical Presentation in Children With Coeliac Disease in Central Europe, Journal of Pediatric Gastroenterology and Nutrition: April 2021 – Volume 72 – Issue 4 – p 546-551doi: 10.1097/MPG.0000000000003015

Nikniaz Z, Abbasalizad Farhangi M, Nikniaz L. Systematic Review With Meta-analysis of the Health-related Quality of Life in Children With Celiac Disease. J Pediatr Gastroenterol Nutr. 2020 Apr;70(4):468-477. doi: 10.1097/MPG.0000000000002604. PMID: 31899728.

Jedwab CF, Roston BCMB, Toge ABFS, Echeverria IF, Tavares GOG, Alvares MA, Rullo VEV, Oliveira MRM. The role of probiotics in the immune response and intestinal microbiota of children with celiac disease: a systematic review. Rev Paul Pediatr. 2021 Sep 1;40:e2020447. doi: 10.1590/1984-0462/2022/40/2020447. PMID: 34495279; PMCID: PMC8432160.



Voltar para o blogue